(trechos extraídos do artigo original que se
encontra aqui)
Nos consultórios de psiquiatria começa a aparecer em crescente velocidade os problemas decorrentes da obsessão pelo corpo perfeito.
Algumas mulheres se consideram infelizes ao mostrar uma dobrinha na barriga quando sentam. Alguns mocinhos sacrificam boa parte do tempo em intermináveis e obsessivas horas “puxando ferro” nas academias de musculação. Isso sem contar com aquelas pessoas que atribuem o fracasso da conquista do grande amor a um pequeno excesso de gordura na cintura, a um nariz ligeiramente mais profuso ou a um seio menos farto. Parece estar havendo uma locação anatômica da felicidade, ora no seio, ora no nariz, ora na balança.
O conceito de beleza está associado a ser jovem, como se fosse impossível encontrar o belo fora da juventude. É triste, mas às vezes as pessoas acham que o mais importante é o que aparentam, e não o que são de fato. E é comum dizer-se “– Nossa, você já tem 60 anos? Mas não parece...”. Não parece como? Baseado em que? Ora essa atitude invalida todas as experiências vividas para se chegar aos sessenta, que não se consegue aos trinta ou quarenta.
Alem dos transtornos estimulados pela conjuntura cultural, há ainda o problema imposto às pessoas com sobrepeso (e não obesas). Existem dois agravantes sociais cruciais influindo na vida das pessoas acima do peso ideal; uma influência francamente recriminadora e de exclusão social dos obesos e outra, absolutamente estimulante para a manutenção e desenvolvimento da própria obesidade.
É grosseira e desumana discriminação estética imposta pelos parâmetros ditatoriais das medidas, juntamente com o julgamento do obeso como uma pessoa que não tem força de vontade e que ele é assim por ser preguiçoso. O enfoque discriminatório pode gerar preconceito em relação à pessoa obesa, acaba proporcionando dificuldades para relacionamentos sociais e afetivos, problemas para encontrar emprego e até quadros psiquiátricos gravemente depressivos e conseqüentes a essa marginalização.
Clinicamente a obesidade pode ser considerada hoje uma doença crônica, capaz de provocar ou acelerar o desenvolvimento de outras doenças e que concorre para uma morte mais precocemente. Porém, existem inúmeros estados ou situações entre a obesidade e o simples sobrepeso e as regras de um estado não deveriam ser as mesmas do outro, em termos de felicidade. A obesidade, de fato, deve ser prevenida e corrigida, tendo em vista os sabidos efeitos deletérios sobre a saúde e a qualidade de vida. O sobrepeso, entretanto, deve ser melhor avaliado à luz das repercussões culturais, das restrições sociais e da baixa autoestima que esses fatores estimulam.
Paradoxalmente, em franca contra-posição à tendência repulsiva da sociedade contra a obesidade, a ingestão excessiva de alimentos, desde criança, é bastante estimulada por nossa cultura altamente consumista. A armadilha está no forte apelo cultural através da propaganda, do marketing e da mídia publicitária para a ingestão excessiva de alimentos supérfluos, como balas, bolachas, salgadinhos, cerveja, sorvetes, etc.